Quando atravessarmos o túnel até o fim desta pandemia, a engenharia e os engenheiros terão feito a sua parte.
Às vezes, em momentos desafiadores, não nos damos conta de como foi grande o desenvolvimento humano nos últimos séculos e principalmente nas últimas décadas. Menos ainda em períodos da chamada normalidade. Temos como sociedade e civilização um longo caminho a percorrer. Mas deveríamos, de um modo geral, nutrir uma profunda gratidão pelo que já alcançamos.
Vale aqui uma breve reflexão trazendo uma questão simples que coloquei recentemente aos meus alunos. O que, por exemplo, a engenharia civil tem a ver com o setor agropecuário? Quando paramos para pensar vamos ver que tem muita coisa. E nem estou me referindo à engenharia da agronomia, ou à engenharia mecânica que desenvolve todo o extraordinário maquinário, ou à engenharia de produção que também lançando mão dos novos recursos tecnológicos levou a cadeia de valor do setor a patamares antes inimagináveis. Basta lembrar, como já comentei em textos anteriores, que o Brasil sozinho tem condição de produzir de 48 a 50 % de toda a comida do mundo! Nenhuma surpresa, para quem é observador, sobre as ações / atitudes de países como a China em relação ao Brasil. Sob o ponto de vista da China há, a longo prazo, muita coisa em jogo. Segurança alimentar é uma questão de segurança nacional que vai obviamente além da “amizade” entre nações. Mas voltando à engenharia civil para responder a nossa questão basta pensar na logística da cadeia de valor. A produção precisa ser irrigada. Precisa ser armazenada e transportada ao seu destino final. Desde a pesquisa operacional tradicional à viabilização técnica dos modais de transporte, a engenharia civil se faz essencial: Rodovias, ferrovias, portos aeroportos entre tantas outras coisas.
Mas em momento de desafio, mesmo que transitório, como o que vivemos com a pandemia em curso, é essencial uma coordenação centralizada de todos estes recursos. Ações isoladas de governos locais e regionais por ignorância dos impactos na logística geral de transporte, armazenamento e distribuição de alimentos, medicamentos e tantos outros insumos essenciais chega a ser uma barbaridade. Mais grave ainda se há interesses mesquinhos de poder e dominação a todo custo disfarçados de defesa ao bem comum. Um exemplo é a estrutura de produção e distribuição de equipamentos médicos como respiradores que precisam chegar a seu destino.
Isto nos remete aos hospitais onde além de todo o seu corpo médico, enfermeiros (as) e staff de apoio, tudo depende hoje de aparelhos e sistemas de engenharia. Se quisermos nos ater apenas à estrutura física das instalações hospitalares podemos pensar também na construção de centros de saúde e hospitais e instalações hospitalares emergenciais em todo o mundo. Sem os engenheiros não daria para fazer isso.
Se prevalecer um mínimo de bom senso, o Brasil tem todos os meios para vencer bem este momento. Em alguns pontos aproveitando o aprendizado de outros países, adaptando à realidade local e até fazendo melhor algumas coisas. Apesar de muitas coisas o Brasil tem uma boa engenharia que, além disso e cada vez mais, vai se integrando e lançando mão de tecnologias desenvolvidas, dentre outras, pela engenharia eletrônica e a engenharia da computação e que por sua vez, são viabilizadas pela ciência da computação e ciência de dados, juntas rumo aos primórdios da inteligência artificial. Quando atravessarmos o túnel ate o fim desta pandemia, a engenharia e os engenheiros terão feito a sua parte. Claro, se o que há de mal na política brasileira não conseguir atrapalhar demais.
Este artigo foi escrito por Jose Antonio de Sousa Neto*, Professor da EMGE (Escola de Engenharia de Minas Gerais)